terça-feira, 15 de agosto de 2017

DECISÕES SALOMÔNICAS

São decisões justas que fazem lembrar o Rei Salomão, símbolo da justiça perfeita, oriunda de uma sabedoria profunda, inspirada por Deus. Salomão foi Rei de Israel na Antiguidade. Era filho de Davi e Bate Seba, e seu sucessor. Diz a Bíblia que Deus o levou em consideração, pois instado sobre seus desejos, Salomão preferiu simplesmente a Sabedoria por poder governar com justiça seu povo. Governou Israel por 40 anos, de 966 aC a 926 Ac. Organizou o Reino, celebrou grandes tratados, construiu templos, o principal deles o Templo de Jerusalém, também conhecido como Templo de Salomão.

Porém, a sua política social gerou, com pesados impostos gerou descontentamentos e o cisma que ocorreu após a sua morte, isto é a separação das 12 tribos hebraicas em dois reinos, Israel e Judá.

Israel reunia as 10 tribos do Norte e tinha por capital Samaria, e governado pelo fiel escudeiro de Salomão chamado Jeroboão. Já o reino de Judá era formado por duas tribos do Sul, com capital em Jerusalém governado por seu filho Roboão. A divisão favoreceu a invasão estrangeira. O rei babilônico Nabucodonosor, dominou a região levando os hebreus para a Babilônia, período que ficou conhecido, o cativeiro da Babilônia.

Os persas conquistaram o Império Babilônico e permitiram a volta dos hebreus para a palestina. Em seguida a Palestina foi dominada por Alexandre Magno da Macedônia, e depois pelos Romanos que destruíram o templo de Jerusalém, provocando a revolta dos Hebreus. O movimento foi reprimido e os hebreus expulsos da Palestina, provocando sua dispersão pelo mundo, que ficou conhecido como Diáspora.

Há o episódio narrado da Bíblia, quando duas mulheres foram até Salomão para resolver o impasse da definição de quem era a mãe da criança. Salomão mandou cortar a criança ao meio e entregar a cada uma a metade. Uma delas preferiu o filho e entregue a mãe usurpadora. Então Salomão mandou entregar a esta a criança viva, pois a mãe de verdade prefere seu filho vivo. Este episódio ganhou fama e correu o reino, aumentando ainda mais o respeito dos súditos pelo seu rei.

Porém, não é fácil uma decisão salomônica. Requer, antes de tudo maturidade, ter sido experimentado nas dificuldades da vida, como o ferro que passa pelo calor do fogo. Leitura, muita leitura, especialmente dos clássicos da literatura, enfim ter conteúdo humano e humanitário.

Muitas vezes o conhecimento cumulativo, quantitativo, não qualitativo, pode não trazer sabedoria. Nesse sentido, vale mais a experiência de um matuto que contempla o horizonte, percebendo a dança das aves e sabe se vai chover ou não. Chama o filho e lhe ensina essas observações, recomendando-lhe prudência, providências e cuidados.

A sabedoria salomônica é calma, sem pressa, avalia todas as condicionantes de uma decisão que pode ser fundamental para vida presente e futura.

Salomão precisa ser revisitado... Sempre.


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sexta-feira, 11 de agosto de 2017

O POPULISMO

Antes de considerar o Populismo na atualidade, torna-se necessário um pequeno recuo na História, especialmente da América Latina, o que inclui necessariamente o Brasil.

Já a partir dos anos 20 vão ascendendo ao poder na América Latina líderes carismáticos que procuraram uma aproximação com as massas populacionais mais pobres, oferecendo-lhes vários tipos de assistências, com discursos inflamados de esperanças e redenção, principalmente econômica.

O populismo, então, vai se caracterizando por uma cooptação das massas populares aos projetos pessoais dos caudilhos, ditadores e líderes carismáticos.  Esse momento coincide com a expansão do rádio, o que facilita a comunicação. Todo mundo procurar adquirir o seu rádio de pilha ou movido à bateria, justamente para ouvir as notícias das cidades e os discursos dos políticos. Portanto, o Populismo dispensa os intermediários, pois a comunicação se faz no corpo a corpo, no contato direto.

Sim, o Populismo dispensa também instituições e organizações políticas, como partidos e sindicatos, que vêm essa estratégia com maus olhos, não havendo, portanto, compromisso do Populismo com a Esquerda ou com a Direita. Não há uma ideologia específica no Populismo, a não ser mesmo o apoio quase incondicional das massas populares aos seus líderes.

Getúlio Vargas no Brasil, Juan Domingos Perón na Argentina e Lázaro Cárdenas no México, são exemplos eloquentes de ação Populista. Este movimento perdurou até os inicios da década de 1970, mas suas raízes permanecem até hoje, atraindo e enfeitiçando os políticos.

O Populismo hoje tanto pode ser velado e quase imperceptível ou escancarado nas falas e ações dos políticos de hoje.

As ações governamentais de ajuda às massas populares, com programas assistências a custo do erário púbico são Populistas e visam projetos de permanência ou retorno ao poder de líderes ou grupos políticos.

Perceber esses movimentos, antes de adquirir um certo asco em relação à política e aos políticos, requer maturidade e conhecimento. Uma ação Populista que custa as massas populares compreenderem é a falência da educação. Um povo deseducado não vai cobrar os políticos de suas promessas e desacreditá-los nas urnas. É uma ação populista imperceptível.
Todos se enojam com os discursos, com as falas dos parlamentares aos microfones quando acontecem as votações transmitidas ao vivo. Populismo puro e latente.

A política, como ciência do bem comum vai muito além disso. Vai muito além das ideologias baratas dos Partidos de ocasião. Vai muito além do discurso vazio.



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terça-feira, 8 de agosto de 2017

DAR TESTEMUNHOS


Quando falamos em dar testemunhos, logo vem à mente os testemunhos religiosos, os prodígios que Deus opera em nossa vida. E isso é verdade. Os milagres são muitos, incontáveis, principalmente os pequenos milagres, em contraposição aos grandes milagres que a gente sempre espera.

Sim, porque a espera de um grande milagre sempre torna imperceptíveis os pequenos milagres, como o dom da vida, o dom do amanhecer, o dom da alegria, o dom de uma nova amizade, o dom o ombro amigo.

Dar testemunhos é manifestar essa alegria de ver acontecendo os milagres em nossa vida. Agradecer sempre, jamais lamentar.

Não estamos considerando os milagres fáceis que algumas religiões insistem em divulgar.

Mas, a expressão “dar testemunhos” tem um alcance muito maior, pois perpassa todos os sentidos da vida. É lógico que os testemunhos ficam mais evidentes a partir de evidências, de conversões, as quais não necessariamente necessitem ser religiosas.

As causas sociais convidam á conversão, pois o sofrimento humano é um poderoso elemento de atração das pessoas. Quantas pessoas que anonimamente aderiram às causas sociais, ingressando em ONGs, ou mesmo fundando uma, apenas porque foram tocadas pelo sofrimento humano. E se transformam em heróis, em referências na sociedade.

Há outras tantas conversões: É possível a conversão a um partido político, a partir do entendimento de sua ideologia e de seu projeto para a construção do bem comum, que é a essência da Democracia.

É possível a conversão a uma corrente filosófica e batalhar para que tal corrente seja mesmo um alento para que o ser humano compreenda a si mesmo e aos outros e assim seja possível a construção da paz social.

É possível a conversão à história, como mestra da vida, uma vez que o passado sempre pode desconstruir e reconstruir o presente e o futuro.

São tantas as conversões na trajetória da vida. Mas o grande lance das conversões são os testemunhos silenciosos, apenas com os exemplos práticos de uma mudança de vida, de uma entrega total e irrestrita ao novo modus vivendi. Os testemunhos silenciosos, ainda que imperceptíveis no início, são mais eloquentes. Os testemunhos barulhentos se assemelham aos fogos de artifício: morrem no mesmo instante. Ou chuva de verão, passa ligeira.

Os testemunhos silenciosos, como os exemplos de vida, são fundamentais para a construção de pessoas. Basta de maus exemplos.



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segunda-feira, 3 de abril de 2017

A SEMIÓTICA, A LIDERANÇA E O FUTURO


A semiótica é a ciência que estuda o ocorrência dos signos (sinas) na vida social, a partir dos indivíduos. A palavra origina-se da raiz grega “semeion”, que dá a ideia exatamente de “signo”. Portanto, dessa origem temos “semiotiké”, a arte dos sinais.

É uma área de conhecimento que vem desde os primórdios da humanidade, caminhando lado a lado com filosofia, a mãe de todos os conhecimentos, de todas as ciências. Não é uma ciência nova. Ela está sim, sendo cada vez mais estudada e reinventada em função das novas exigências da comunicação da comunicabilidade nesse mundo cada vez mais veloz, com tantas novas formas de inter-relacionamentos.

A semiótica se preocupa  com os signos e todas as linguagens que são sentido à comunicabilidade desses signos no micro-mundo social, zs pessoas próximas uma das outras, mas também a comunicação global, que não existe mais barreiras nos inter-relacionamentos. Também é conhecida, com algumas restrições, como “semiologia”

Hoje em dia estão ligados à semiótica os estudantes, professores e profissionais ligados à educação, à psicologia sócia, à comunicação e áreas afins das relações humanas.

Nomes importantes da Semiótica, ao longo da História, fontes de pesquias dos interessados, são os seguintes:
John Locke (1632-1704), um dos primeiros a usar modernamente o termo;
Charles Sanders Peirce ( 1839-1914)
Ferdinand de Saussure ( 1859-1913)
Louis Hjelmslev (1899-1965)
Umberto Eco (1932-1916)

Por que é importante a semiótica? Porque ela trata de juma característica fundamentalmente humana que a comunicação nas suas mais diversas formas, com ênfase nos significados que as pessoas, a partir de condições meramente individuais dão as coisas de seu entorno.  Apesar dessa individualidade as ciências humanas procuram sistematizar e procurar uma base mínima de consenso no formato dessa comunicabilidade, exatamente como fizeram os estudiosos citados acima.

O tema é complexo, alguns aspectos mais simples chama a atenção. Quem ocupa funções de lideranças, quem tem a responsabilidade de formar opiniões e de conduzir grupos humanos por determinados caminhos, se estiverem preparados e com conhecimento de semiótica, terá o dom de compreender melhor os significados que as pessoas dão às coisas, outras pessoas e ideias, e melhor poderá compreendê-las. A melhor liderança é aquela baseada no serviço. E melhor serve aquele que melhor compreende.

A literatura a respeito não é abundante, porque é específica e direcionada a um publico bem específico. Vale o interesse. Valem os cursos de especialização. Vale o foco. Tudo está em constante, plena e célere transformação. Os signos e os significados também. Daqui a um tempo, não sabemos se curto ou longo, toda a comunicação estará mudança, como os empregos, os relacionamentos e as formas e ver o mundo.

Quem viver verá.



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segunda-feira, 13 de março de 2017

A ESPADA DE DÂMOCLES


A história ensina... E como ensina!

Siracusa foi, em tempos remotos, uma importante comunidade grega na ilha da Sicilia, sul da Península Itálica. Rica, apoiando o avanço comercial dos gregos, foi administrada por reis tiranos e sanguinários.

Em período incerto governou Siracusa o Rei Dionísio II, poderoso e igualmente sanguinário. Muito rico, tinha em sua corte um bajulador contumaz chamado Dâmocles. Dionísio, apesar do poder vivia infeliz e preocupado, pois tinha muitos inimigos. Não confiava em ninguém, a não ser em suas filhas. Dâmocles parecia invejar-lhe o luxo e a riqueza, dizendo aos quatro cantos que Dionísio era, sim, o homem mais feliz do mundo.

Dionísio, então, propôs-lhe ceder a Dâmocles pelo menos um dia e uma noite de seu luxo, para que ele realmente desfrutasse daquilo de que tanto falava. Dâmocles aceitou e passou a saborear os vinhos e as comidas de primeira linha, e, também das lindas mulheres que serviam à corte. Entretanto, no auge da alegria e da felicidade, Dâmocles percebeu que uma espada muito afiada e brilhante pendia sobre sua cabeça, presa por um finíssimo fio de rabo de cavalo. Mais do que depressa, mas com cuidado ele se afastou do trono onde estava, desistindo de vez do luxo, da opulência e da alegria, mesmo que fosse por um dia e uma noite.

Dionísio interpelou-o dizendo que esta era a situação em que vivia constantemente. Pois sabia que  o risco de a espada cair, por um simples gesto de quem quer que seja era iminente. Por isso estava sempre triste e amargurado, temendo pelo pior, isto é,  a traição e a morte.

Essa história foi-nos legada por Cícero, grande filósofo romano do Primeiro Século Antes de Cristo, que teria lido nas obras do historiador grego Diodoro Sículo (ou da Sicilia) e popularizada na Idade Média. O ensinamento de Cícero é que a espada de Dâmocles representa a insegurança daqueles que detém grande poder, especialmente quando esse poder é mantido pela força, pelo autoritarismo, pelo sangue. O medo da queda faz o inferno mental desses homens. Os tiranos são sempre corridos por baixo.

Verdade ou inverdade, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Pois falando em vida pública, quem cometeu deslizes, corrupção ativa ou passiva, crimes contra a sociedade ou contra o bolso do contribuinte ou contra o bem comum, sabe que a espada um dia vai cair sobre sua cabeça. Não há crime perfeito, a não ser com a conivência do sistema jurídico e também da sociedade não politizada.

Do episódio de Dâmocles e Dionísio pode ter originado ainda a expressão “vida por um fio”, o fio da espada, o frágil fio do rabo de cavalo que a mantém suspensa.

Como seria bom uma justiça atuante, não condescendente. Como seria ótimo um povo consciente e lutador por sua dignidade humana. Como seria maravilhoso o respeito pelos valores sagrados do universo humano, da natureza, do meio ambiente.

A História ensina... E como ensina... Mas quem aprende?



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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

AL-KHWARIZMI, A MATEMÁTICA E A ÉTICA

Abu Abdallah Mohammed ibn Musa Al-Khwarizmi, foi uma das mentes mais brilhantes da Idade Média (matemático, geógrafo, astrônomo e historiador), nascido por volta do ano 780 na região ao sul do Mar de Aral, hoje Uzbequistão e faleceu em Bagdá, capital do então Império Persa, por volta do ano de 850. Fez parte da famosa Casa da Sabedoria, criada pelo califa AL-Mamum em Bagdá.

Al-Khwarizmi, escreveu tratados sobre vários ramos do conhecimento, principalmente sobre a matemática, como aritmética, álgebra, astronomia, geografia, calendário, incentivado que foi por Al-Mamum, este preocupado em oferecer regras simples de cálculo para uso da população comum, como o comércio, partilha de terras, escavação de túneis, distribuição da colheita, etc. etc.. Na verdade, Al-Khwarizmi buscou o que os indianos desenvolveram nas diversas áreas do conhecimento, amplio-os e sistematizou-os, inclusive o uso do “zero”.


Seus tratados ganharam notoriedade, foram estudados por outros cientistas da Idade Média. Do conjunto de sua obra surgiram palavras ou expressões da matemática, usadas até hoje (e assim será sempre) todas ligadas ao seu nome, como a própria álgebra, o algarismo e o algoritmo. Al-Khwarizmi é considerado um dos precursores do Renascimento cultural da Idade Moderna. Entretanto, é ainda um personagem que merece ser mais bem conhecido.

Sim, mais bem conhecido, pois em meio a tantas facilidades da Era da Informação, fica difícil, especialmente para as gerações novas compreenderem as raízes do conhecimento e em que condições pessoas deram inicio a essa maravilhosa caminhada do homem em direção do saber e do domínio da natureza.

Al-Kawarizmi foi um humanista, uma inteligência rara que viveu para além do seu tempo, tempo de obscuridade. Há um diálogo atribuído a ele em que é instado a comparar a matemática com o ser humano. É o que segue.

Perguntaram a Al-Khwarizmi sobre o ser humano e ele respondeu
- Se tiver Ética, então é igual a 1 (um)
- Se também for Inteligente, acrescente 0 (Zero) e será igual a 10 (dez)
- Se também for Rico, acrescente mais um 0 (zero) e será igual a 100 (cem);
- Se ainda for Belo, acrescente mais um 0 (zero) e ele será igual a 1000 (mil);
- Mas se ele perder o 1 (um), que corresponde a Ética, então perderá todo o seu valor, pois restarão apenas os zeros.

Pois é, podemos fazer exercícios e variações. Sem Ética o ser humano continuará sendo apenas “zeros”. Até quando continuaremos a menosprezar os “clássicos” e a não respeitar os valores mínimos da conduta humana?

E haja corrupção...

José Gonçalves dos Santos



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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

AS INVASÕES DA HUNGRIA E DA CHECOSLOVÁQUIA

A GUERRA FRIA

Para que possamos compreender as razões e o significado dos dois acontecimentos que vamos estudar (as invasões da Hungria em l956 e da Checoslováquia em l968, pelas tropas da ex-União Soviética) precisamos tomar conhecimento da Guerra Fria, que foi o pano de fundo desse período da História recente da humanidade.

A Guerra Fria foi uma série de confrontos entre as duas grandes potências mundiais emergidas da II Guerra Mundial, Estados Unidos (EUA) e Ex-União Soviética (URSS), em praticamente todos os campos de atividades, destacando-se a Corrida Armamentista, a Corrida Nuclear e a Conquista do Espaço Sideral.

Em decorrência da Guerra Fria e da emergência das duas potências, o mundo ficou bi-polarizado, isto é, com duas grandes áreas de influência: a dos EUA, com ênfase ao capitalismo e da URSS, socialista.

Estabeleceu-se, então, a nova geopolítica, surgindo o Primeiro Mundo (sob a hegemonia dos EUA), o Segundo Mundo (URSS) e o Terceiro Mundo (formado pelas nações pobres, periféricas e transformadas em alvo da ação imperialista das duas nações hegemônicas).

Na Europa houve praticamente dois alinhamentos em torno das duas potências: a Europa Ocidental (formada pelos países do lado mais ocidental) alinhou-se aos EUA; e a parte Oriental (Polônia, Hungria, Albânia, Checoslováquia e/outras) à URSS.  (Algumas, como a Suíça, permaneceram na neutralidade). Entre as duas regiões caiu, o que se convencionou chamar, por sugestão de Winston Churchill, a “ Cortina de Ferro “.

Cada potência fazia de tudo para proteger seus “aliados” e impedir que mudassem de lado, comprometendo sua área de influência.

A INVASÃO DA HUNGRIA - 1956

Os acontecimentos que levaram ao massacre e ao fim sonhos de liberdade recentemente acalentados pelos húngaros precipitaram-se em 23 e 24 de outubro de l956. Todo o país se voltava para a Polônia, onde, sem golpes de sangue, ainda que sob a ameaça soviética, uma mudança radical acabara de acontecer. O Comitê Central do Partido Comunista, sob a pressão das massas, elevara ao poder o nacional-comunista Gomulka, velho resistente à dominação externa, vítima do terror stalinista.

Os húngaros sonhavam com liberdades políticas, sociais e econômicas. Os dirigentes húngaros da época, Gero (stalinista), e Janos Kadar, estavam habituados desde 1945 a receber docilmente as ordens de Moscou (Capital da URSS), e se mostravam incapazes de tomar qualquer decisão diante das mudanças que o povo exigia. Os estudantes tinham programado uma grande manifestação para após o meio dia de 23 de Outubro, e Gero decidiu proibi-la. Voltou atrás, diante da promessa de que não haveria violência e vandalismo.

Os estudantes, entretanto, não conseguiram conter-se. A multidão reuniu-se primeiro em volta da estátua de Petof, herói da revolução nacional de 1848, e marcharam pelas principais ruas da capital.

À medida que marchava, recebia a adesão de trabalhadores em escritórios, operários, soldados uniformizados, estudantes de escolas militares. Levavam bandeiras tricolores sem o emblema comunista. Com isto, um novo personagem entrou em cena: a massa anônima, desarticulada, sem chefe, que tinha apenas uma certeza: a de que alguma coisa muito importante ia acontecer.

O povo ocupou todo o quarteirão do Parlamento. Os gritos aumentavam de intensidade: “Imre Nagy no poder! Queremos ver Imre Nagy!”. Relutante, Nagy dirigiu-se ao Comitê Central, onde assumiu o cargo de Primeiro-Ministro.

Os acontecimentos se precipitaram. Grupos de jovens ocuparam a emissora de rádio, exigindo que divulgasse suas reivindicações. Um discurso de Gero, chamando-os de contra-revolucionários. Os policiais chegaram, e aí aconteceu a grande surpresa: muitos policiais juntaram-se aos manifestantes e lhes entregaram armas. De repente começou o tiroteio, transformando a manifestação pacífica em luta armada contra a parte da polícia que não aderira. A estátua de Lenin foi derrubada e o chefe do governo húngaro, Gero, pediu socorro aos dirigentes soviéticos, dizendo que a revolta crescera e que a polícia não seria capaz de contê-la.

Foi então que Imre Nagy, chamado pelo povo, foi contra a ajuda militar soviética, mesmo tendo a revolta se transformado em guerra nas ruas da cidade. Seguiu-se uma série de encontros entre dirigentes húngaros e soviéticos, até que na noite de 03 de Novembro de 1956, o General Servo, chefe da polícia de segurança soviética, prendeu todos os dirigentes húngaros, contrários a essa ajuda militar.

Janos Kadar, aliado dos russos voltou ao poder e, mal o dia 4 de Novembro amanheceu, os tanques soviéticos entraram em Budapeste, apoiados pela aeronáutica. Era o começo do massacre. Apesar de toda a desorganização, o povo tentou enfrentar os invasores, em combates sangrentos. Soldados húngaros seguiram o exemplo do povo e entraram na luta. Mas os tanques falaram mais alto. Três mil pessoas foram mortas e 14 mil foram feridas. Os tanques passaram por cima dos sonhos dos húngaros.

A INVASÃO DA CHECOSLOVÁQUIA

O povo da Checoslováquia (hoje dividida em duas nações: Checa e Eslováquia) experimentou, também, em 1968, os sonhos de uma liberdade, conhecida como a “Primavera de Praga”. Conheceu também a realidade de uma repressão implacável, por parte dos seus aliados da Cortina de Ferro, liderados pela União Soviética.

A Checoslováquia era governada por Alexander Dubcek, que imprimiu ao país reformas que buscavam um “socialismo humanizado”, estimulando a criatividade artística e científica. As lideranças stalinistas foram afastadas, procedeu-se à descentralização e à liberação do sistema, com amplo apoio de operários, intelectuais e estudantes.

O Comitê Central do Partido Comunista da Checoslováquia elaborou, então, o projeto para “renovação do socialismo“, promovendo a democratização do Partido e do Estado, criando condições para uma participação ativa das massas na orientação e direção do país.

Essa renovação atingia todos os aspectos da atividade nacional: criação de novas formas de gestão socialista da economia nacional, nascimento de uma verdadeira democracia socialista, nova definição do papel dirigente da classe operária e de suas relações com a cultura e os intelectuais, construção de um verdadeiro socialismo humanista.

O fim da Primavera de Praga

Esse reformismo, entretanto, esbarrava na nova conjuntura soviética e internacional: O líder soviético Leonid Brejnev revertia a desestanilização de Nikita Krushev e, no plano externo, experimentava o endurecimento das relações com os Estados Unidos, reforçando a Guerra Fria. Como o projeto da Primavera de Praga implicava em autonomismo, colocava em risco a hegemonia soviética, ameaçando o monolitismo dos partidos comunistas nos diversos países do leste Europeu, o que estimularia a oposição e as dissidências.

As intervenções política e militar dos dirigentes da União Soviética e de alguns de seus parceiros do Pacto de Varsóvia mataram a esperança dos Checos.

A invasão foi desfechada de surpresa, na noite de 20 de 21 de Agosto, com forças da União Soviética, Alemanha Oriental, Bulgária, Polônia e Hungria. Ante a investida de 200 mil homens, que ocuparam rapidamente os pontos estratégicos de Praga e do interior do país, cortando todas as comunicações com o exterior, as autoridades locais pediram às Forças Armadas e ao povo que não resistissem. Dubcek e seus principais colaboradores foram detidos e enviados para Moscou.

Ao contrário do que ocorreu na Hungria, em l956, a Primavera de Praga foi esmagada sem matança, mas Moscou demonstrou claramente que pretendia restabelecer seu domínio absoluto sobre a Checoslováquia. A censura foi rigidamente restabelecida sobre todos os meios de comunicação e os reformistas depostos e detidos. A polícia secreta soviética assumiu o controle da situação, enquanto as forças blindadas foram mantidas no interior do país e a capital, Praga, foi obrigada a reconhecer, sob pressão direta dos dirigentes de Moscou, que “suas fronteiras ocidentais eram inseguras e deviam se defendidas“.

No dia 04 de Outubro, processou-se o desmantelamento total da Primavera de Praga. A União Soviética anunciou a conclusão de um “acordo“, nos termos do qual suas forças permaneceriam indefinidamente na Checoslováquia.

A 30 de Outubro, o país foi dividido em Estados autônomos federados, checo e eslovaco. E a 17 de Abril de l968 ocorreu o último ato: Dubcek foi deposto e substituído por Gustavo Husak, o líder comunista designado por Moscou para restabelecer seu controle direto sobre o país invadido.

Foi o fim da Primavera de Praga.

CONCLUSÃO

As invasões da Hungria e da Checoslováquia têm sua importância  História como exemplos de imperialismo. Quando os interesses maiores de nações dominantes são afetados de nada valem os valores humanos e individuais das nações menores. Muito menos os direitos humanos e de cidadania. Fica o exemplo para que situações dessa natureza não venham a acontecer. Para isso todas as nações, não importam o seu tamanho territorial ou o número de sua população, devem amadurecer no sentido de fazer valer os seus valores e sua autodeterminação.



Imagem: Google.