segunda-feira, 13 de março de 2017

A ESPADA DE DÂMOCLES


A história ensina... E como ensina!

Siracusa foi, em tempos remotos, uma importante comunidade grega na ilha da Sicilia, sul da Península Itálica. Rica, apoiando o avanço comercial dos gregos, foi administrada por reis tiranos e sanguinários.

Em período incerto governou Siracusa o Rei Dionísio II, poderoso e igualmente sanguinário. Muito rico, tinha em sua corte um bajulador contumaz chamado Dâmocles. Dionísio, apesar do poder vivia infeliz e preocupado, pois tinha muitos inimigos. Não confiava em ninguém, a não ser em suas filhas. Dâmocles parecia invejar-lhe o luxo e a riqueza, dizendo aos quatro cantos que Dionísio era, sim, o homem mais feliz do mundo.

Dionísio, então, propôs-lhe ceder a Dâmocles pelo menos um dia e uma noite de seu luxo, para que ele realmente desfrutasse daquilo de que tanto falava. Dâmocles aceitou e passou a saborear os vinhos e as comidas de primeira linha, e, também das lindas mulheres que serviam à corte. Entretanto, no auge da alegria e da felicidade, Dâmocles percebeu que uma espada muito afiada e brilhante pendia sobre sua cabeça, presa por um finíssimo fio de rabo de cavalo. Mais do que depressa, mas com cuidado ele se afastou do trono onde estava, desistindo de vez do luxo, da opulência e da alegria, mesmo que fosse por um dia e uma noite.

Dionísio interpelou-o dizendo que esta era a situação em que vivia constantemente. Pois sabia que  o risco de a espada cair, por um simples gesto de quem quer que seja era iminente. Por isso estava sempre triste e amargurado, temendo pelo pior, isto é,  a traição e a morte.

Essa história foi-nos legada por Cícero, grande filósofo romano do Primeiro Século Antes de Cristo, que teria lido nas obras do historiador grego Diodoro Sículo (ou da Sicilia) e popularizada na Idade Média. O ensinamento de Cícero é que a espada de Dâmocles representa a insegurança daqueles que detém grande poder, especialmente quando esse poder é mantido pela força, pelo autoritarismo, pelo sangue. O medo da queda faz o inferno mental desses homens. Os tiranos são sempre corridos por baixo.

Verdade ou inverdade, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Pois falando em vida pública, quem cometeu deslizes, corrupção ativa ou passiva, crimes contra a sociedade ou contra o bolso do contribuinte ou contra o bem comum, sabe que a espada um dia vai cair sobre sua cabeça. Não há crime perfeito, a não ser com a conivência do sistema jurídico e também da sociedade não politizada.

Do episódio de Dâmocles e Dionísio pode ter originado ainda a expressão “vida por um fio”, o fio da espada, o frágil fio do rabo de cavalo que a mantém suspensa.

Como seria bom uma justiça atuante, não condescendente. Como seria ótimo um povo consciente e lutador por sua dignidade humana. Como seria maravilhoso o respeito pelos valores sagrados do universo humano, da natureza, do meio ambiente.

A História ensina... E como ensina... Mas quem aprende?



Imagem: Google